Breve passeio pelo samba e suas origens
Quem consegue ficar parado ao ouvir o batuque do samba? Como diria Doryval Caymi, só quem for ruim da cabeça ou doente do pé. O samba é contagiantemente brasileiro, com uma alegria característica que “quando se canta todo mundo bole”.
Mas você sabe como nasceu o samba?
Para falar disso, temos que nos remeter ao Recôncavo Baiano, que, segundo Caio Csermak, antropólogo e etnomusicólogo, foi onde, no final do século XIX, surgiu o termo “samba”. Antes, todas as danças acompanhadas por tambores, praticadas por negros, tais como o côco, por exemplo, eram chamadas de “batuque”.
E assim como o batuque agrupava vários ritmos, o samba também virou um grande chapéu que abrigava o samba de roda, o partido alto e muitas outras variedades de samba, todas elas com uma característica comum, a presença do pandeiro.
Mas foi o samba de roda que em 2004 foi considerado patrimônio cultural do Brasil e em 2005 foi declarado pela UNESCO patrimônio imaterial oral da humanidade.
Esse samba é uma herança dos escravos africanos, que ao chegar ao Brasil sofreu influências diversas, inclusive portuguesa, com a utilização da viola e da própria língua cantada. Começou como dança de roda, bem semelhante às rodas de capoeira, em que acompanhado pelas palmas, um dos participantes dançava no centro da roda e para convidar o próximo dava-lhe uma umbigada, por isso, por muito tempo assim foi denominado, umbigada.
Entre os instrumentos originalmente utilizados no Samba de roda, além da viola e do pandeiro, estavam o atabaque, o berimbau e o chocalho e os escravos ainda costumavam bater com o garfo no prato, gerando um som similar ao do reco-reco, ajudando na marcação. O samba de roda é tão contagiante, que basta começar a cantarolar clássicos como “Alguém me avisou”, composição de 1980, da rainha do samba, Dona Ivone Lara, que naturalmente a palma começar a bater: foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?
Deixa eu parar de cantar, senão não consigo escrever.
Ao longo do tempo, novas influências foram acontecendo, os escravos migraram para o Rio de Janeiro e com eles levaram o samba, que se misturou com a polca e o maxixe e, portanto, seria então uma matriz do samba carioca, que em 1916 teve o seu primeiro registro fonográfico, a música “Pelo telefone”, gravada por Donga, com participação de João da Baiana, Pixinguinha, Caninha e Sinhô.
Hoje, é o samba-enredo das escolas de samba do Rio que é uma das maiores vitrines do samba brasileiro. Ele surgiu na década de 50, fortemente ligado ao carnaval e tem como uma de suas características o ritmo mais acelerado, até mesmo para que as escolas não ultrapassem o tempo máximo para atravessar a avenida, sob pena de desclassificação.
Os samba-enredos inspiram as coreografias e fantasias das escolas de samba e a temática nele abordada geralmente tem contexto histórico, social ou cultural, como se pode ver no samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, de 1989: “Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz”.
São muitas as variedades de samba, o samba-rock, por exemplo, mistura o samba de gafieira com elementos do jazz pós-bebop e claro, do rock, como o próprio nome diz. Ele tem uma marcação diferente e uma característica marcante, a inclusão da guitarra elétrica. Em 1959, Jackson do Pandeiro lança o clássico “Chiclete com banana”, quando surge o termo samba-rock e ele deixa claro na letra toda influência contida na canção: “eu só boto bebop no meu samba quando Tio Sam tocar um tamborim”.
Mas nem só de alegria vive o samba, em 1929, Luís Peixoto lança “Ai, iôiô”, o primeiro registro do samba-canção, um estilo de samba mais lento, com forte característica romântica, que muitas vezes falavam de amor e solidão, que foi eternizado por grandes nomes como Cartola, Ataulfo Alves e Noel Rosa, com clássicos como “Preciso me encontrar”: deixe-me ir preciso andar, vou por aí a procurar rir para não chorar.
Mas como é melhor ser alegre que ser triste e a alegria é a melhor coisa que existe, é a alegria a maior representação do samba, presente nas suas diversas expressões, como é possível sentir no samba de breque, no samba de partido alto e em suas outras tantas manifestações. Viva o samba brasileiro!
Rejane Luna